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Itapira, 02 de Maio de 2024
Notícia
03/08/2014 | Funcionário revela bastidores do ‘rombo’ no SAAE

Um funcionário do SAAE (Serviço Autônomo de Água e Esgotos), preocupado com a imagem da autarquia, reve­lou em entrevista exclusiva, como funcionava o caixa do SAAE até o dia 20 de junho de 2013. Falou do pedido de acordo dos envolvidos e ou­tras irregularidades e rogou: nós queremos que tudo seja apurado, doa a quem doer.

A denúncia pública do pre­feito José Natalino Paganini (PSDB) sobre o rombo no SAAE durante as presidências de Neiroberto Silva e Antonio Eduardo Boretti, o Dado, de acordo como os resultados de uma auditoria realizada por determinação do prefeito ao presidente da autar­quia, José Armando Mantuan, continu­aram repercutindo na cidade durante a semana. Os comentá­rios, no entanto, vêm ganhando dois níveis distintos de discussão: um grupo entende que o aspecto importante da auditoria foi a constatação de um rombo de mais de R$ 2 milhões, que podem ter sido desviados dos cofres públicos para os bolsos de alguém, para esse grupo o importante é investigar e punir os responsáveis. O outro grupo, composto majorita­riamente por opositores de Paganini, prefere valorizar o desconto dos dois cheques no caixa do SAAE, emitidos por Paganini, no valor de R$ 10 mil. Em entrevista ao jornal A Cidade, publicada na semana passada, o prefeito explicou que os cheques foram doados à Esportiva durante a série A3 e que o ex-presidente do SAAE tinha trocado na autarquia com o intuito de prejudicá-lo.

Enquanto uma discussão caminha para as questões administrativas no SAAE e visam esclarecer as supostas irregularidades, a outra ver­tente busca dar conotação política ao fato. Dentro da seara política, a tentativa pode ser considerada normal, a velha briga entre situação e oposição. Os opositores ao prefeito Paganini sabem que o único ato irregular cometido na questão dos cheques foi justamente a troca no caixa do SAAE, por isso a tentativa de jogar sobre ele a respon­sabilidade do procedimento. O problema é que essa ten­tativa acabou resvalando na imagem do SAAE, também, uma empresa pública que presta um serviço essencial à população e goza de alto nível de aprovação dos con­sumidores.

Paganini declarou que ninguém mais do que ele tem interesse em esclarecer todos os fatos relacionados às irregularidades do SAAE. “Quero frisar que eu não estou falando em apuração depois que o assun­to veio à tona. Eu fiz isso muito antes, em junho do ano passado determinei que as ir­regularidades fossem investigadas. Uma au­ditoria independente foi contratada e con­cluiu o levantamento, a sindicância foi insta­lada e apresentou os resultados, o processo com 14 volumes foi encaminhado para o Ministério Público, para o Tribunal de Contas e para a Câmara Municipal. Além des­ses atos, está em andamento no SAAE um PAD(Processo Administrativo Disciplinar) para apurar a conduta dos servidores envolvidos. Tudo foi feito sem que ninguém fosse acusado antecipada­mente. O meu interesse e a minha obrigação é apurar. A condenação, se for o caso, caberá à justiça. Na semana passada tornei público o as­sunto, dei nome aos bois, por conta de uma campanha que foi minuciosamente planejada para me prejudicar”.

Na terça-feira, 29, uma pessoa que se apresentou como representante de um grupo de servidores do SAAE dizendo ter informações com­plementares sobre o rombo, mas solicitou que o nome dela não fosse revelado, procurou a redação do jornal. Foi atri­buído a essa pessoa o nome fictício de Pedro.

 

A Cidade: O que você tem a ver com o caso SAAE?

 

Pedro: Não estou entre os envolvidos e aproveito para esclarecer que a maioria ab­soluta dos funcionários não estáenvolvida nos aconteci­mentos. Por isso, essa nossa conversa, não queremos apa­recer, por razões óbvias, mas também não podemos nos calar, publicamente, diante dos fatos que presenciamos ou ouvimos durante esse tempo, internamente.

A Cidade: Por que você não quer aparecer?

Pedro: Essa briga não é nossa. Não colaboramos com ninguém, cumprimos aquilo que nos era determinado e de vez quando nós alertávamos sobre o que nós achávamos errado, mas não éramos ou­vidos. Alguns chegaram a ser ameaçados. Outro ponto é que SAAE não tem nada a ver com a disputa política. Queremos proteger o nosso emprego e preservar o SAAE. Todo mundo sabe que a po­lítica, em outro momento, acabou levando o SAAE a ser transferido para a Sa­besp, mas pouca gente sabe o quanto isso foi traumático para todos nós servidores. Não queremos pagar o pato. Não queremos nos expor. Temos medo! Pode ser exa­gero, mas tememos até pelas nossas vidas. A sensação que a gente tem é que chegou a ser instalada no SAAE, nesses últimos anos, uma verdadeira quadrilha. Nunca assistimos tanta coisa errada.

A Cidade: O que vocês querem, exatamente?

Pedro: Nós queremos o SAAE fora na briga polí­tica, nós queremos que as investigações continuem e apurem tudo o que preci­sa ser apurado. Esperamos que o Ministério Público não abandone esse patrimônio público e entre na investiga­ção. Queremos que todos os órgãos que foram acionados cumpram com as suas mis­sões. Queremos que aqueles que usaram o SAAE para en­riquecimento ilícito ou para ajudar na campanha sejam punidos exemplarmente. Assim o SAAE se mantém fortalecido e respeitado pelos itapirenses. Caso contrário, a população vai ver o SAAE como a Casa da Mãe Joana, onde tudo pode, onde tudo acontece, onde todo mundo mete a mão e ninguém faz nada. Nós queremos que as pessoas que lutaram para manter o SAAE como patrimô­nio dos itapirenses clamem pela verdade, que exijam que a inves­tigação vá até o fim, que não permitam o uso da autarquia para propósitos políticos e, principalmente, repu­diem as tentativas de mudar o foco da discussão que só prejudica o SAAE e os funcionários. É basicamente isso que queremos.

A Cidade: Esse processo que está correndo no SAAE está tranquilo ou vocês têm recebido algum tipo de pres­são?

Pedro: Todas as vezes que tem algum procedimento as pessoas envolvidas tentam jogar a responsabilidade dos acontecimentos em cima de alguém, ora é fulano que não fez a coisa direita, ora é sicrano que errou a anota­ção, ora é a atendente que lançou errado, é horrível. Nós ficamos sempre a espera de eles possam lançar alguma denúncia sobre a gente e ficarmos sem ter como nos defender, você sabe a corda sempre rói no ponto mais fraco. Durante esse período, é comum ver funcionários chorando depois das sessões. O clima às vezes fica muito pesado. Queremos ver o fim disso, o mais rápido possível.

A Cidade: Você chegou a me dizer que tinha alguns pontos que poderiam contri­buir para elucidar a discussão. Quais são esses pontos?

Pedro: O ponto principal desses acontecimentos, é bom que se diga, se deve ao primeiro presidente in­dicado pela administração anterior. Foi Neiroberto Silva quem adotou a sistemáti­ca de receber no prédio do SAAE as contas e os serviços. Esse sistema passou a gerar um movimento de dinheiro muito grande no prédio. Até certo ponto a nos­sa preocupação era com a segurança. Imaginávamos que a qualquer momento poderíamos sofrer um assalto. Não quería­mos aquela situação. Cansamos de recla­mar, mas ninguém nos dava ouvidos.

Além disso, perio­dicamente e estra­nhamente trocava-se o sistema de infor­matização, alegava­-se que não funcionavam como o desejado. Também tentávamos contribuir com a nossa experiência, chegavam a aceitar as nossas sugestões, mas acabavam fazendo o que dava na cabeça deles.

A Cidade: Você falou em grande volume de dinheiro. Você pode dizer qual era o nível e onde esse dinheiro ficava até ser depositado?

Pedro: O SAAE nunca teve cofre. O dinheiro ficava em caixa até ser depositado. O caixa chegou a registrar R$ 60 mil e assim permanecia por vários meses. Os depósitos aconteciam, mas como existiam novas entradas, o pa­tamar era mantido, e em nossa opinião, sem nenhuma necessidade. Esse dinheiro ficava em uma gaveta, em uma pequena sala, cujo acesso era per­mitido para três pessoas, mas apenas duas dessas pessoas tinham o controle desse caixa. Controle absoluto, eu diria. Volto a dizer, como o SAAE não tinha segurança privada vinte quatro horas, acháva­mos aquilo desnecessário e muito perigoso.

A Cidade: Quem eram as pessoas que frequentavam essa sala, onde ficava a gaveta de dinheiro?

Pedro: As pessoas en­volvidas no processo e os presidentes, cada qual no seu tempo.

A Cidade: Você diria que esse dinheiro chegou a ser usado para finalidades es­tranhas ao SAAE?

Pedro: Na prática, nada impedia que isso aconte­cesse. Como o caixa ficava sempre com volume alto de dinheiro vivo, o desconto de cheques era tecnicamente possível, para não aparecer bastaria mais tarde o cheque ser substituído por dinheiro novamente sem deixar ne­nhum rastro. Nós sempre des­confiamos que isso pudesse estar acontecendo, mas não posso afirmar que de fato aconteceu, ninguém tinha acesso à sala, nem à gaveta, fora as duas pessoas, mas posso dizer que recebíamos visitas constantes dos políticos da época.

A Cidade: Você está insinuando que essas visitas dos po­líticos seriam para trocar cheques por dinheiro?

Pedro: Eu não posso dizer isso, não vi, ninguém viu. Mas posso dizer que depois dessas visitas era comum alguém ser chamado para dar esclarecimentos ou tomar providência, nós entendíamos que era uma reivindicação, algo que precisava ser feito, ações normais na vida do SAAE. Em várias ocasiões, no entanto, como ninguém era chamado, imaginávamos que o assunto não estava relacionado com os serviços do SAAE.

A Cidade: A auditoria (isso já foi divulgado) constatou um desvio efetivo na ordem de R$ 320 mil. Acredita-se que esse número poderá crescer e chegar ao rombo de R$ 2 milhões verificado. O que se sabe sobre isso?

Pedro: Sabemos, por exemplo, de casos em que há registros de saída de caixa para depósito em banco bem diferente do valor que foi efetivamente depositado. Por exemplo, uma saída para depósito registrou R$ 50 mil, mas o valor que foi depositado foi de R$ 20 mil. É como se o portador tivesse perdido R$ 30 mil no caminho entre o SAAE e o banco. Casos como esse somam R$ 320 mil e não existe nenhuma dúvida sobre isso.

A Cidade: Sobre os cheques do Paganini que foram troca­dos no SAAE, vocês tem ideia de quando isso aconteceu?

Pedro: Não. Como já disse a gaveta com dinheiro era con­trolada por duaspessoas, mas como o caixa sempre tinha dinheiro vivo, a troca pode ter acontecido em qualquer momento.Tiraram os R$ 20 mil e colocaram os dois cheques no lugar. O que eu posso dizer é que se esses cheques foram trocados entre os dias 18 e 20 de junho, naquele período o caixa indicava ter R$ 45 mil.

A Cidade: Você sabe dizer quem esteve no SAAE trocando esses cheques por dinheiro?

Pedro: Na manhã do dia 20 de junho, quando Paganini foi à Rádio Clube e anunciou a exoneração, Dado Boretti esteve no SAAE, conversou com algumas pessoas, inclusi­ve com as que controlavam a gaveta de dinheiro e realizou uma reunião com os chefes. Sabemos que dias depois, outra reunião foi realizada na casa do Dado. Na investigação uma das pessoas envolvidas confirmou que os cheques foram trocados por Dado Boretti, logo essa dúvida tem prazo para ser esclarecida.

A Cidade: Você acredita que o prefeito Paganini poderia ter trocado esse cheques no SAAE?

Pedro: Com que finali­dade ele faria isso? É bom lembrar que naquele mo­mento ele, o prefeito, já tinha determinado a apuração das irregularidades e só o novo presidente tinha essa informação. Outro detalhe importante é que quando começaram as insinuações na imprensa envolvendo o prefeito, nós imaginamos que ia parar tudo, ia ficar o dito pelo não dito. Ficamos sabendo que as pessoas en­volvidas chegaram a propor um acordo para que o proces­so fosse interrompido. Para a nossa surpresa, o presidente Zé Armando fez uma reunião interna, informou o que estava acontecendo e garantiu: não tem acordo com essa gente, a investigação vai continuar. Vou confessar uma coisa, eu e muitos colegas - acho que a maioria - não votamos no Paganini, mas depois dessa reunião eu passei a admirar a coragem do prefeito. É claro que ele deu o apoio que o Zé Armando precisava para continuar investigando, senão parava tudo, você não acha?

A Cidade: Como você in­terpreta a troca dos cheques?

Pedro: Quando eu disse no começo da nossa con­versa que nós tínhamos a sensação de que existia uma quadrilha atuando no SAAE, a forma como eles agiram com esses cheques confir­mou as nossas suspeitas. Ficou clara a intenção de querer melar o processo, lançar dúvidas e confundir a opinião pública, talvez pouca gente percebeu, mas eles soltaram uma faísca, esperaram duas semanas (foi quando foi proposto o tal acordo) para ver o que aconteceria.Como não houve mudança nas investigações eles voltaram ao ataque, com carga total, e transfor­maram os cheques na principal arma. Acharam que com isso o prefeito po­deria recuar. Fe­lizmente ele não recuou.

A Cidade: Que outras irregularidades eram pra­ticadas?

Pedro: Várias e elas de­vem ser investigadas, es­peramos que se confronte o aumento de patrimônio de algumas pessoas com os recebimentos declara­dos, esperamos a quebra de sigilo bancário, enfim, muita coisa deverá aparecer ainda. Acho que quando alguém for desmascarado, o número de envolvidos vai aumentar. Eu vou fa­lar de uma situação que muita gente passou por ela. De repente o consu­midor recebia uma conta com valor altíssimo. Uns reclamavam e o desconto era concedido sem qual­quer investigação, dava a impressão que o aumento na conta era propositado, nem queriam muita discus­são. Outros não reclama­vam e pagavam o que era cobrado, depois era dada uma ordem interna para aplicar um desconto. Veja a gravidade, o consumidor pagou o que foi cobrado, um desconto era incluído, sobrava dinheiro no caixa. Pergunto: para onde ia essa sobra? Não era para aquele caixa, lá ia apenas o que era contabi­lizado.

A Cidade: Pedro, eu gostaria de agra­decer a confiança que você depositou, concedendo essa en­trevista importantíssi­ma para esclarecimento da população e que o melhor caminho é esse, apurar o que tem que ser apurado, doa a quem doer.

Pedro: Eu é que agrade­ço a oportunidade, tenho certeza que os meus co­legas ficarão felizes com essa manifestação, não podíamos ficar calados, deixar todo mundo pen­sando que nós funcionários participamos disso tudo. Mas quero reforçar que a troca dos cheques é um assunto importante e foi bom ter vindo à tona, mas esclareço que o SAAE não recebe mais nada na sede, todo e qualquer pagamento só é feito em banco. Não temos mais um caixa que facilitava desvios, trocas de cheques ou coisa pa­recida. É importante que todos estejam de olho no rombo de R$ 2 milhões, um dinheiro que fará falta ao SAAE. É dinheiro nosso que foi usado indevida­mente. Tomara que a gente consiga recuperar alguma coisa. Dizer, também, que os beneficiários diretos ou indiretos tem todo interes­se para que a investigação não vá até o fim. Eu, meus colegas e, espero, todos os itapirenses esperam que se coloque tudo em pratos limpos. Muito obrigado.

Fonte: Da Redação do PCI

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